Porque o MPA é contra os agrotóxicos e lançou a campanha nacional em defesa da vida?
O Movimento dos Pequenos Agricultores, nesses 14 anos de existência, tem defendido como princípio a vida de qualidade para os camponeses e camponesas, e para toda a sociedade brasileira a partir do respeito à natureza e da preservação ambiental.
O uso intensivo de agrotóxicos tem levado à contaminação do solo, da água, do ar e dos alimentos, causando profundos desequilíbrios nos ecossistemas, e prejudicando a saúde humana. Crescem a cada dia registros de intoxicações e mortes ligadas ao uso dos agrovenenos, que freqüentemente afetam trabalhadores agrícolas, a população camponesa e urbana, que consomem alimentos com resíduos de agrotóxicos.
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Segundo dados do Sindicato Nacional para Produtos de Defesa Agrícola (Sindage), em 2008 o nosso país ultrapassou a marca dos 700 milhões de litros de agrotóxicos legalmente comercializados. Em 2009, esse número subiu para 1 bilhão.
Ainda na safra de 2008/2009, foram vendidos 7,125 bilhões de dólares em agrotóxicos.
O uso dos agrovenenos no Brasil é tão intenso que, fazendo uma distribuição da quantidade de veneno utilizado no ano de 2009 por habitante no país, chegamos a conclusão de que cada um de nós consumiu uma média de 5,2 kg de agrotóxicos ao longo do ano.
A política agrícola do país e uso de agrotóxicos
O uso dos agrotóxicos/agrovenenos no Brasil e no mundo começou a ser intensificado a partir das décadas de 60 e 70, com a chamada revolução verde. A revolução verde foi um processo de mudança da política agrícola e tecnológica no país implementado a partir da segunda guerra mundial. Com um falso discurso de modernização do campo, esse processo incentivou e impôs a prática de monocultivos, o uso de sementes híbridas e geneticamente modificadas, a forte mecanização pesada do campo e o uso dos pacotes agroquímicos (adubos e venenos). Atualmente, o Brasil possui mais de 400 tipos de agrotóxicos registrados(inseticidas, fungicidas, herbicidas).
Quase toda a tecnologia que surgiu na revolução verde, desde as máquinas aos agrotóxicos, foi proveniente de equipamentos e produtos químicos utilizados na guerra.
A produção e a comercialização dos agrovenenos no Brasil e no mundo se concentra na mão de seis grandes empresas transnacionais, que controlam mais de 80% do mercado de venenos. São elas: Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont, DowAgroscience e Basf.
Além de controlar a fabricação dos agrotóxicos, essas empresas também controlam a produção e comercialização de sementes e medicamentos, cria um ciclo vicioso de consumo para gerar lucro, onde a saúde do povo não é importante, quanto mais veneno, mais doenças, mais remédios e, portanto, mais LUCRO.
Desse modo, os agricultores que passam a utilizar esse pacote tecnológico (sementes transgênicas, adubos e venenos) serão sempre dependentes dessas empresas.
Mais agrotóxicos, menos alimentos
No Brasil, enquanto aumentam os índices de produtividade agrícola, contraditoriamente, permanecem altos os índices de insegurança alimentar.
Segundo dados do IBGE, 35% da população encontra-se em situação de insegurança alimentar. Isso acontece porque o modelo de agricultura brasileiro não está voltado para a produção de alimentos, e sim para o agronegócio, para o lucro. Cada vez mais aumentam no Brasil os monocultivos de cana, soja, fumo e eucalipto, mas nenhum desses produtos vai para a mesa do povo brasileiro. Quanto maior o uso de venenos e de sementes transgênicas, menor a produção de alimentos. E a insegurança alimentar não é maior porque a agricultura Camponesa continua resistindo e produzindo 70% dos alimentos diversificados do país, mesmo com pouquíssimos recursos, pouca terra, insuficiente apoio técnico e precário incentivo por parte do estado brasileiro, como ficou comprovado na última pesquisa do censo agropecuário.
As culturas que mais utilizam agrotóxicos no país são justamente aquelas produzidas no modelo do agronegócio, cultivadas em grandes áreas de monocultivo e voltadas para a exportação, como é o caso da soja, que é responsável por 51% do volume total de agrotóxicos comercializados no país.
Lutar pelo fim do uso dos agrotóxicos significa defender a vida, o meio ambiente e os seres humanos. Essa proposta está articulada com a necessidade de uma nova dinâmica de produção para o campo brasileiro: a agricultura camponesa baseada na agroecologia.
A Agricultura Camponesa preserva os recursos naturais, resgata as práticas camponesas de cultivo, e está comprometido com o bem estar de quem produz e de quem consome o alimento. Por isso, o MPA tem como proposta de vida para o povo brasileiro o Plano Camponês baseado na produção de alimentos saudáveis a partir da prática agroecologica, combinados à manutenção e a recuperação dos serviços ambientais, a geração de postos de trabalho e a ocupação popular dos territórios, fazendo a distribuição das terras dos latifúndios e das terras improdutivas através da Reforma Agrária.
Para acabarmos com o uso de agrotóxicos no campo precisamos articular e lutar pelo fim do agronegócio, do latifúndio e dos monocultivos, em defesa de um novo modelo de desenvolvimento no campo, o Plano Camponês e um Projeto Popular para toda a sociedade, para o Brasil.
Direção Nacional do MPA
MPA – 14 anos de luta e afirmação camponesa.
Organizando os camponeses
Produzindo alimento saudável
Alimentando a nação.
Enfrentar esta Campanha é ir contra com todo o modelo opressor, escravizador, manipulador do sistema capitalista transnacional. É isso aí companheirada, vamos lutar para que possamos garantir a continuidade da futura geração camponesa e urbana com um planeta ecologicamente equilibrado.
A luta segue em frente companheir@s em todas as células do movimento.
Rita de Cássia Pereira de Jesus – MPA-BA.
EMPRESA DO AGROHIDRONEGOCIO CAUSA DESTRUIÇÃO AMBIENTAL, INJUSTIÇA SOCIAL E LESAM A POULAÇÃO DE PONTO NOVO – BA
Ponto Novo situa-se no Centro Norte do Estado da Bahia, Território Piemonte Norte do Itapicuru, com uma área aproximada de 465 km². Fica a 332 km da capital, Salvador, e segundo os dados preliminares do Censo 2010 conta atualmente com uma população de 15.722 habitantes.
Por volta de 1999, neste município foi construída uma barragem com a finalidade de implantar um perímetro irrigado. Iniciado pelo governo carlista Paulo Souto e continuado pelo governo Wagner. O Estado expulsa as famílias camponesas de sua terra, para dar espaço ao agrohidronegócio, causando impactos ambientais gravíssimos associados à injustiça social e a concentração da riqueza.
Para realizar este projeto foram retiradas da terra mais de 400 famílias. Destas, após pressão, mais de 130 conseguiram acesso a pequenos lotes irrigados onde pagam pelo uso da água em média trezentos reais mensais. As demais famílias migraram para cidade passando a ser vítima da miséria que hoje assola as periféricas. Enquanto, do outro lado, foram concedido lotes empresarias de em média 50 hectares e, atualmente, há empresas, como a Sítio Barreiras, que concentram vários lotes. Não podem ser esquecidas as famílias acampadas desde 11 de junho de 2008 dentro do Perímetro, cobrando o seu direito de acesso a terra.
O projeto de irrigação, que foi instalado em Ponto Novo, está insustentável, por isso, o governo injeta recurso mensalmente, em média 70 mil reais.
Este projeto de morte leva a destruição de todas as formas de vida. A empresa Sitio Barreiras para ampliar o seu plano, foi financiada em 8 milhões de reais pelo BNB, com apoio da Seagri. Com aval da SEMA/IMA estão desmatando a Catinga nativa, destruindo muitas árvores seculares, como: umbuzeiro, baraúna, aroeira, tamburi, umburana, licurizeiro, pau d’arco e ervas medicinal não encontrada em outros biomas. A destruição de toda flora leva a destruição da fauna. Tudo isso, por causa da ambição e em nome do lucro.
Esta empresa Sítio Barreiras veio de outro Estado e tem o apoio do governo baiano para produzir aqui bananas a base de veneno para abastecer o mercado das capitais. Com esta prática contamina a terra e a água com agrotóxicos, utilizando inclusive a pulverização aérea que contamina os lotes onde trabalham ecologicamente e, até mesmo, a cidade que fica a dois km (2 km). E o fazem principalmente nos finais de semana, o que dificulta as denuncias perante aos órgãos que competem à ação de fiscalizar e punir.
A população de Ponto Novo, bem como a que reside na bacia do Itapicuru, precisam saber que a terra e os lençóis freáticos estão contaminados com o veneno. E esta água é canalizada para abastecer outros municípios. O mesmo acontece com os trabalhadores/as que estão lidando com os produtos tóxicos. Já está aparecendo sintomas nas pessoas que lidam com veneno, há peixes mortos nos canais, ausências de pássaros, causando serio desequilíbrio ecológico.
O governo da Bahia em sua propaganda diz que é prioridade a agricultura familiar, mas se contradiz quando no plano safra no ano em 2010 e 2011 vai disponibilizar R$ 4,2 bilhões sendo que, dos quais R$ 3,2 bilhões serão destinados à agricultura empresarial e apenas R$ 1 bilhão para a agricultura familiar. Outra contradição é, no projeto de irrigação de Ponto Novo, a concessão de vários lotes para as empresas, via laranjas, e o não assentamento das famílias acampadas dentro do perímetro. Também não rompe com os contratos não cumpridos, já que em até dois anos a terra deveria ser utilizada e, no entanto, existem lotes desocupados a mais de 6 anos.
Nós do MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores reconhecemos que o inimigo dos camponeses é o agrohidronegócio. Não podemos deixar que essas práticas de destruição da vida continuem. É preciso que o povo de Ponto Novo e região se alerte e não deixar se enganar com essa farsa.
O MPA, no Acampamento Terra Nossa, está desenvolvendo experiências agro ecológicas dentro do perímetro. Defendemos outro modelo de desenvolvimento que gere trabalho e renda e tenha uma forma diferente de produzir e de manejar a natureza. Queremos produzir alimentos saudáveis e diversificados, com base nos princípios agoecológicos, para poder abastecer em primeiro lugar o município e região e não os supermercados da capital com banana envenenada. Queremos cuidar da natureza, plantar árvores e não derrubá-las, como as empresas estão fazendo. É a agricultura camponesa que em cada 100 hectares gera 15 empregos enquanto o agronegócio gera um em cada 100 hectares, segundo o IBGE.
O MPA exige que o governador do estado da Bahia regularize e assente as famílias acampadas, muitas das quais foram expulsas e resolveram voltar para defender e reafirmar as suas raízes culturais, que um dia foram interrompidas por falsos promessas e porque na cidade não encontram alternativas para uma vida digna. É triste saber que o governo, que diz ser a favor do desenvolvimento sustentável, cruza os braços diante dessa situação. Por falta de vontade política não resolve o problema do Acampamento Terra Nossa, assentando-os no perímetro. Prefere financiar o agronegócio que é o exterminador do planeta, com o mais cruel e perverso modo de produzir.
Se o agronegócio gera riqueza, por que precisa receber investimento do governo federal e estadual?
Fonte: Movimento dos Pequenos Agricultores-MPA
Ponto Novo-BA, 24 de Novembro de 2010