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Por Pilato Pereira, CPT / RS

Popularmente se diz que o 25 de Julho é o “Dia do Agricultor”, mas em muitos locais se diz “Dia do Colono” e ultimamente se recupera um sentido mais original para quem trabalha no campo e se diz que é o “Dia do Camponês”. Na verdade o “Dia do Agricultor” é 28 de Julho, data instituída a partir do centenário da criação do Ministério da Agricultura, em 1960, por decreto do presidente Juscelino Kubitschek. Já a data de 25 de Julho, como “Dia do Colono” é uma homenagem aos “colonos” estrangeiros que imigraram ao Brasil no final do século 19 início do século 20.

Mas, hoje, quando se fala em agricultor, colono ou camponês, já se sabe que se refere ao pequeno agricultor, o homem e a mulher que trabalham na agricultura familiar e camponesa. E quando se refere aos grandes, os latifundiários e ruralistas, eles gostam de serem chamados de “produtores rurais”. E a imprensa frisa muito bem esta terminologia. De fato eles produzem e muito. Produzem, em primeiro lugar, a fome e a miséria porque roubam a terra de quem dela precisa. Produzem riqueza para eles. Os grandes não cultivam a terra, simplesmente arrancam dela o lucro.

Enquanto o pequeno agricultor, o colono, o camponês cultiva a terra, semeando a boa semente para colher o pão de cada dia que alimenta sua família e nutre o Brasil, o dito produtor rural trabalha com dinheiro e na terra põe o transgênico e o veneno e colhe muito mais dinheiro. Você já viu um produtor rural produzir sem dinheiro? Ele usa dinheiro público para arrancar da terra mais riqueza para ele próprio. Mas o pequeno agricultor, que nem sempre tem recursos para cultivar a terra, trabalha na fé, na coragem e no amor.

Mas, a mulher e o homem que, com simplicidade, cultivam a terra, também são cultivados por ela e aprendem a lutar pela sua dignidade e pelo respeito a vida. Quando pessoas simples e humildes se levantam do chão como plantas que querem florir, é porque a terra cultivou seus corações e mentes e aprenderam na vida que é preciso lutar para viver. Por isso, nesta data, é preciso enaltecer mulheres e o homens que, cultivando a terra, aprendem a lutar.
25 de Julho deve ser um dia para celebrar e lutar, porque a vida do pequeno agricultor, colono ou camponês é marcada pela luta, mas com muita mistica e amor com a terra.

 

 Já está estabelecido que a grande mídia não se pauta necessariamente por fatos que sejam efetivamente relevantes para os grandes problemas que ocorrem na sociedade humana. Aliás, como qualquer empresário operando num sistema que visa o lucro, os donos de veículos de imprensa acabam ressaltando ou suprimindo agendas de acordo com seus interesses de classe social. E apesar de eticamente questionável, visto que a ação da imprensa deveria ser voltada para apresentar fatos e não versões de uma dada realidade, isto chega a ser tolerável quando o assunto não é algo de importância estratégica para o bem estar de todos os cidadãos que compõem a sociedade em que estão inseridos. Caso contrário, a omissão de elementos que permitam uma avaliação compreensiva de problemas que nos afetam coletivamente transpõe o campo do que pode ser tolerado.

Um exemplo gritante dos prejuízos da parcialidade da cobertura jornalística está acontecendo neste momento no Brasil. E no centro deste problema está a questão do consumo de agrotóxicos e seus efeitos sobre a saúde de agricultores e dos consumidores finais da produção que é por eles gerada. Esta situação é explicitada pelo fato nada lisonjeiro de que desde 2009 o Brasil se tornou o campeão mundial no consumo de agrotóxicos, e sozinho consome 16% de toda a produção mundial deste tipo de substância química. As conseqüências deste alto padrão de aplicação estão sendo documentadas por estudos científicos que mostram impactos agudos e crônicos sobre agricultores, e que aparecem na forma de uma série de doenças e patologias que incluem diferentes tipos de carcinomas, doenças do sistema nervoso e dermatoses. A coisa fica ainda mais aflitiva se considerarmos que entre as descobertas mais recentes se encontram a descoberta de resíduos de agrotóxicos em leite materno e a ocorrência de alterações cromossômicas que estão alterando as taxas de nascimentos de meninos e meninas. Aliás, em se tratando de detecção de resíduos, aqui mesmo em Campos estudos realizados por pesquisadores da Uenf encontraram vestígios de pelo menos um agrotóxico, de uso abundante na monocultura de cana, na água que chega às nossas torneiras.

No entanto, algo mais abrangente em termos do público atingido vem sendo detectado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) na análise dos alimentos que chegam à nossa mesa. Dados divulgados pela ANVISA em 2009 mostraram que em mais de 64% das amostras de pimentão analisadas foi detectada a presença de agrotóxicos. Mas o problema não fica restrito a uma cultura, visto que nos casos do morango, da uva e da cenoura o montante de amostras contaminadas alcançou 30%. Se considerarmos que o uso intenso de agrotóxicos é hoje elemento intrínseco da produção agrícola nacional, não fica difícil entender por que muitos itens que compõem a nossa dieta cotidiana estão contaminados. Ainda que a taxa de acumulação derivada de frutas e hortifrutigranjeiros contaminados por agrotóxicos possa variar em função dos hábitos alimentares de cada individuo, as chances de que todos estejam caminhando para nos tornar cronicamente contaminados estão ficando cada vez maiores.

Mas onde é que entra a grande imprensa neste imbróglio? Um primeiro aspecto é que esta problemática está sendo mantida fora das pautas principais, e quando aparece é fruto de algum tipo de acidente grave como foi o do derrame de milhões de litros de Endosulfan na calha fluvial do Rio Paraíba do Sul. Além disso, não há um tratamento jornalístico sério que busque ligar a questão do consumo de agrotóxicos e de suas implicações sobre a saúde de toda a população brasileira. Mas algo que eu considero ainda mais vexatório é o fato de que quando chamada a contribuir no esforço que a sociedade civil está realizando neste momento para informar a população brasileira sobre o perigo que estamos correndo, a grande imprensa se omite no papel primordial que deveria cumprir que é o de informar.

É por esta postura da grande mídia que a imensa maioria dos brasileiros continua desinformada acerca da existência da “Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida”que foi lançada em Brasília em 07 de Abril de 2011 por mais de 20 entidades da sociedade civil brasileira, movimentos sociais, entidades ambientalistas e grupos de pesquisa cientifica. Esta campanha, pela importância que tem para todos nós, precisa ser conhecida e divulgada por todos os que possuem um interesse efetivo em garantir o direito de uma alimentação saudável. Para tanto, precisamos parar de aceitar passivamente a manutenção de um modelo de produção agrícola que beneficie principalmente as corporações multinacionais produtoras de agrotóxicos e o latifúndio agroexportador. E aqui é preciso ficar claro que uma tomada de posição contra o envenenamento coletivo por agrotóxicos é a coisa mais lógica a ser feita, visto que os custos sociais e ambientais não respeitam fronteiras de classe social. Aliás, dado que o nível de consumo é ditado pela renda, é bem possível que os setores mais abastados da população brasileira é que estejam neste momento sendo os mais contaminados. Pense bem nisto ao olhar para o seu próximo prato de salada.

*Artigo do Prefessor Marcos Pedlowski, da Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF), para a revista SOMOS ASSIM.

A violência do agrotóxico

Agropecuarista vê gado agonizar pela segunda vez, vítima de veneno
agrícola alheio. Caso entrará em documentário de Silvio Tendler

Publicado no Brasil de Fato em 18 de abril de 2011

Por Vinicius Mansur

Há pouco mais de duas semanas (31/03) a equipe de filmagem do documentário sobre os agrotóxicos, dirigido por Silvio Tendler, estava em Paraipaba, Ceará, cerca de 90 quilômetros a noroeste da capital Fortaleza. Foram investigar as acusações à empresa do agronegócio, de origem holandesa, Companhia Bulbos do Ceará (CBC), por uso indiscriminado de agrotóxicos.

Em fevereiro, a Justiça do Ceará havia deferido liminar proibindo o uso de veneno pela CBC. Entre as explicações estão coceira na pele e problemas respiratórios na comunidade local, a provável contaminação da lagoa da Cana Brava – a 100 metros da fazenda e principal reservatório de água que abastece o município – além da morte, por contaminação comprovada em laboratório, de 18 cabeças de gado do agropecuarista Henry Romero.

Na manhã seguinte à visita da equipe de filmagem, 15 animais de seu Henry apareceram doentes – alguns agonizantes, como mostram vídeos gravados pelo agropecuarista (http://www.youtube.com/watch?v=31iMpTs70bw), sob orientação do Ministério Público. Até o fechamento desta matéria, 12 já haviam morrido.

“O tempo todo que estivemos conversando com seu Henry na propriedade dele, um cara numa caminhonete, dentro da área da CBC, um funcionário, ficava cantando pneu pra cima e pra baixo. Nitidamente para nos
coagir. Tanto que no final, seu Henry falou ‘fiquem tranquilos’ e nos escoltou até a saída”, relatou a documentarista Aline Sasahara.

As propriedades de seu Henry e CBC são vizinhas. Atualmente, separadas por uma “telinha transparente”, como descreve Aline.

Veneno à deriva

Seu Henry é cauteloso e não acusa a empresa de envenenamento direcionado. Entretanto, diz não ter dúvida de que seus animais são vítima do veneno lançado aos montes por seu vizinho:

“Já foi descartado qualquer tipo de doença. É veneno que partiu de lá e o que vai dizer qual veneno é a biopsia. Sabemos que eles nunca obedeceram a ordem de parar de pulverizar. Se eles plantam, eles pulverizam, porque não tem como colher essas culturas sem usar o veneno.”

Cada um dos dois pulverizadores usados pela CBC armazena 2 mil litros de veneno e possuí dois braços de 20 metros que fazem a pulverização suspendida. As duas máquinas juntas chegam a envergadura de 80 metros
e são utilizadas para pulverizar uma área de aproximadamente 22 hectares, segundo Henry:

“A área deles é pequena, não chega a 180 metros de largura, então dá pra você imaginar: 80 metros de braço jogando o veneno à deriva.”

CBC

Criada em 2004, a CBC produz bulbos – caule arredondado do qual brotam flores ornamentais, como a Canna indica, Amaryllis e Caladium. Apesar de serem consumidos pelos EUA e Europa, é em Paraipaba que os bulbos e
a CBC encontram as melhores condições para florecer: longo período de sol, Porto de Pecém a 50 quilômetros de distância, baixo custo da terra e mão-de-obra barata. Todas estas “vantagens”, entretanto, parecem não dispensar a necessidade do veneno: de acordo com a Agência de Defesa Agropecuária do Ceará (Adagri), a CBC utiliza 29 tipos de agrotóxicos, sendo dez altamente tóxicos ao meio e sem registro administrativo de órgãos ambientais estadual e federal. De acordo com a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), a CBC também não possui licenciamento ambiental.

Para agravar a situação, a plantação da CBC se localiza em um platô, com incidência de fortes vento, e é rodeada por um povoado de quase 700 habitantes – muitos deles dependentes da empresa. Em épocas de forte safra, a CBC emprega até 150 trabalhadores. Assim, a população que sofre com a propagação do veneno pela terra, água e ar, pouco pode fazer. “Todo mundo tem medo de falar, porque são vizinhos, porque trabalham lá ou tem parentes que trabalham. Seu Henry tem uma situação econômica muito melhor que a maioria das pessoas ali, então ele pode falar. Mas, a empresa está fazendo um trabalho junto aos moradores, dizendo que se ela fechar a culpa vai ser do seu Henry, que as pessoas vão perder emprego, que ele devia ficar quieto”, conta a documentarista Aline.

Seu Henry

Com aproximadamente 160 cabeças de gado leitero, há mais de 30 anos no ramo “sem usar agrotóxico e nenhum produto que venha causar algum transtorno para a natureza ou para os animais”, seu Henry levou um
grande prejuízo. “Todos os dias estou mandando 500 reais de medicamento para a fazenda, mas não está resolvendo. Morreram animais que eu ainda estou pagando. Comprei no leilão”, reclama.

Contudo, o agropecuarista dá outras razões para seu abatimento. “Eu tenho esse apego aos animais, mas são só animais. E as pessoas lá? Tem um povoado de 130 casas, todas pessoas honestas, humildes que não podem falar nada. Segundo os profissionais químicos, o veneno é absorvido pela medula e vai acumulando, acumulando, até causar leucemia e outros problemas. E tem um caso aqui, a 80 metros do campo, que há uma escola que estudam 200 crianças, em dois turnos. Então, o que estão fazendo é um crime, uma ignorância brutal”, conclui.

AGROTÓXICO MATA!

Publicado no portal Olhar Direto, em 09 de abril de 2011

Por  Pollyana Araújo

 

Recém-empossado no cargo, o secretário de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar, José Domingos Fraga, instituiu uma comissão para averiguar denúncia de contaminação por agrotóxico no leite materno de mulheres em Lucas do Rio Verde (a 360 quilômetros de Cuiabá). O fato ganhou repercussão nacional no mês passado.

A pesquisa, divulgada nacionalmente, foi realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e coletou amostras de leite de 62 mulheres, três delas da zona rural, entre fevereiro e junho do ano passado. Foi detectada a presença de agrotóxicos em todas elas. Em algumas delas havia até seis tipos diferentes do produto.

A comissão será formada por servidores de seis instituições ligadas ao setor agrícola e presidida por um representante da Sedraf. Integram o grupo como membros funcionários do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea), da Secretaria Estadual de Saúde, da Superintendência Federal de Agricultura de Mato Grosso, da Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).

O trabalho de investigação terá o prazo de 15 dias para concluir o relatório. Conforme a pesquisa, as substâncias encontradas colocam em risco a saúde das crianças e até provocar aborto e má formação do feto.

Impulsionando o lançamento da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que acontece neste dia 07 de abril, a rádio Agência Notícias do Planalto lança uma série de reportagens sobre o uso de agrotóxicos no país.  Confira texto e audio!

Especial: Os perigos dos agrotóxicos no Brasil

Por Rádio Agência NP

O Brasil é o primeiro colocado no ranking mundial do consumo de agrotóxicos. Mais de um bilhão de litros de venenos foram jogados nas lavouras em 2010, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola.

Com a aplicação exagerada de produtos químicos nas lavouras no país, o uso de agrotóxicos está deixando deser uma questão relacionada especificamente à produção agrícola e se transforma em um problema de saúde pública e preservação da natureza.

A RadioagênciaNP apresenta uma série especial de sete reportagens sobre os agrotóxicos no Brasil. Os programas tratam dos efeitos dos agrotóxicos na saúde humana (tanto dos trabalhadores rurais como dos consumidores de alimentos), no meio ambiente e na agricultura.

O consumo de agrotóxicos cresce de forma correspondente ao avanço do modelo do agronegócio, que concentra a terra e utiliza grande quantidade de venenos para para garantir a produção em escala industrial.

Nesse quadro, os agrotóxicos já ocupam o quarto lugar no ranking de intoxicações. Ficam atrás apenas dos medicamentos, acidentes com animais peçonhentos e produtos de limpeza. Essas fórmulas podem causar distúrbios neurológicos, respiratórios, cardíacos, pulmonares e no sistema endócrino, ou seja, na produção de hormônios.

Leia e ouça agora os programas da série especial “Os perigos dos agrotóxicos no Brasil”, produzida pela Radioagência NP.

Programa 01 – Os modelos agrícolas em disputa
Programa 02 – O papel das grandes empresas no mercado dos agrotóxicos
Programa 03 – Mercado dos agrotóxicos, legislação e irregularidades
Programa 04 – Os danos dos agrotóxicos ao meio ambiente
Programa 05 – Impactos dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores do campo
Programa 06 – Contaminação dos alimentos e a saúde pública
Programa 07 – A campanha nacional contra o uso de agrotóxicos

Ficha técnica:
Coordenação geral: Danilo Augusto.
Reportagens: Danilo Augusto, Jorge Américo, Maria Mello, Pedro Carrano e Raquel Casiraghi.
Revisão de conteúdo: Edilson Dias Moura e Igor Felippe.
Locução: Ana Manuella Chã, Alécio Oliani (vinhetas) e Jorge Américo.
Arte: Aldo Gama e Marina Tavares.
Sonoplastia: Adílson Oliveira e Jorge Mayer.

Confira a cobertura da imprensa sobre as atividades de lançamento da Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela vida, que aconteceu neste dia 07 de abril, dia mundial da saúde.

 

1 – Movimentos Sociais lançam Campanha contra os Agrotóxicos

(Diário do Comércio Industrial – Brasília)

 

2 – Brasília tem protestos contra Código Florestal e agrotóxicos.
Movimentos sociais aproveitaram o dia Mundial da Sáude para lançar uma
campanha contra o uso de agrotóxicos

(Exame.com)

3 – MST lança campanha contra o uso de agrotóxicos
(Estadão)

4- Lançamento da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
(FASE)

5 – Audiência discute agrotóxicos no dia mundial da saúde.

(Goiás Agora)

 

6 – Secretário de Agricultura de GO defende pesquisa para diminuir uso
de agrotóxicos.

(Goiá Agora)
7- Começa Campanha contra os Agrotóxicos no ES.

(Século Diário)

8 – ANVISA, CNA e MPA divergem sobre uso de agrotóxicos na Câmara Federal.

(Agência Câmara de Notícias)

Publicado no site Rede Brasil Atual, em 24 de fevereiro de 2011

Por: João Peres, Rede Brasil Atual

 

Franco da Rocha (SP) – Café com leite, pão com manteiga, pessoas reunidas em volta da mesa: o dia começa tranquilo para várias famílias de produtores rurais. Intoxicação, disfunção renal, náusea: o dia termina tenso. O quadro do uso de defensivos agrícolas no Brasil é preocupante, segundo professora Raquel Rigotto, da Universidade Federal do Ceará. Ela apresentou dados de um estudo sobre os efeitos dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores rurais em seminário organizado na capital paulista nesta quinta-feira (24) pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O assentamento Dom Tomaz Balduíno, em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, é um exemplo de calmaria. O estudo apresentado, não. São ao menos 700 mil toneladas de agrotóxicos ao ano, ou uma média superior a três quilos por brasileiro, com perigosos resíduos nos alimentos consumidos no dia a dia. Um destaque negativo é a concentração desse tipo de substância na soja (300 mil toneladas/ano) e no milho (100 mil toneladas/ano).

O motivo para a liderança nesse ranking é que se tratam dos dois principais cultivos de organismos geneticamente modificados no país, com forte crescimento anual. Raquel Rigotto lamenta que tenha se fechado o ciclo no qual as empresas de biotecnologia fornecem a semente transgênica e o agrotóxico mais recomendado para aquela semente.

Raquel lembra aos agricultores reunidos no Espaço Patativa do Assaré que o Brasil e o mundo assistem, desde a década de 1960, à crescente presença de agrotóxicos, à concentração do mercado em poucas empresas e à mecanização do campo. “Criaram a cultura da Revolução Verde, que nos fez esquecer que durante oito mil anos a humanidade produziu uma agricultura sem veneno”, analisa.

A pesquisadora lamenta que siga arraigada na sociedade a ideia de que o único meio para uma produção agrícola eficaz é a aplicação de venenos. Sucessivos governos brasileiros colaboraram para a formação dessa cultura, com generosos incentivos tributários e pouco monitoramento, traços encontrados em toda a América Latina. “Somos vistos como o pedaço de continente com muita terra fértil, muita água, mão de obra barata e desorganizada e um Estado com políticas favoráveis”, critica.

Pressões

Para Raquel, um dos fundamentos da luta contra os agrotóxicos deve ser a pressão por uma postura rígida dos governos em relação ao assunto. Outro caminho fundamental, na visão da professora, é a mobilização dos trabalhadores rurais, os principais afetados pelo desrespeito à legislação e pelo uso desordenado dessas substâncias. “O que se precisa para comprar agrotóxico hoje? Só dinheiro. Com dinheiro, compra quantos litros quiser”, aponta.

Raquel lembra ainda que a postura das empresas é um fator complicador na evolução do debate sobre o uso de agrotóxicos. Como o custo para desenvolver um novo produto é altíssimo, há corporações que querem que os órgãos governamentais aprovem suas substâncias a qualquer custo, independentemente dos riscos para a sociedade e para o meio ambiente.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem sido um alvo de críticas frequentes por manter uma postura mais rigorosa. Além disso, há grande movimentação para evitar que os casos de intoxicação por defensivos agrícolas sejam comunicados às autoridades de saúde, o que cria, segundo ela, certa invisibilidade em torno do tema, na medida em que não aparece nas estatísticas oficiais.

“As empresas querem que a gente prove que determinado agrotóxico provoca câncer, querem que apresentemos o número de mortos como argumento. A gente precisa construir o debate sobre o princípio da precaução: se tem risco, elas que provem que não causa câncer”, desafia.

Conscientização

O assentamento Dom Tomaz tem 63 famílias distribuídas ao longo de 300 hectares – outros 300 são de área de preservação. Cada família produz, para subsistência e para o mercado interno, verduras e legumes em geral. Hoje, é consenso dentro do MST a questão de que a produção deve ser feita sob a perspectiva agroecológica, com respeito ao meio ambiente e sem o uso de agrotóxicos.

Lourival Plácido de Paula, da direção estadual dos sem-terra, lembra, no entanto, que demorou para que caísse em descrédito a crença de que o modelo de produção convencional era o mais eficiente para dar conta de um abastecimento justo e barato. “Com o tempo é que os efeitos desse sistema na agricultura começam a se mostrar cada vez mais graves para a economia e para a população. É um modelo de concentração da riqueza na mão das empresas”

Na segunda parte do seminário, os produtores de diversas partes do estado trocaram experiências, debateram os estudos apresentados por Raquel Rigotto e delinearam estratégias para que as informações sejam levadas a outros assentamentos e a outros movimentos.

Jade Percassi, do setor de educação do MST paulista, considera que o fundamental será discutir maneiras de acabar com a invisibilidade do problema perante a população, tendo como foco a necessidade de restabelecer uma relação saudável entre o humano e a natureza.

“Na sociedade, o debate sobre agrotóxicos não existe. Isso tem efeitos nefastos sobre a saúde da população. Além disso, é um problema para a nossa soberania, pois a agricultura fica nas mãos de seis empresas transnacionais que não dão atenção às questões sociais e ambientais em torno deste veneno”, analias Jade.

Apreensões foram próximo à Nova Aurora e Cascavel, no Oeste do Paraná.
Cigarros seriam levados para Sorocaba (PR) e o veneno até a Bahia.

Publicado no portal G1 PR, em 28 de fevereiro de 2011

A Polícia Federal apreendeu um caminhão baú, com aproximadamente 680 caixas de cigarro contrabandeado do Paraguai, durante uma fiscalização na BR-369, próximo à cidade de Nova Aurora, no Oeste do Paraná, por volta das 9h30 deste domingo (27).

O caminhão foi carregado em Vera Cruz do Oeste (PR) e seguia para Sorocaba (SP). Segundo informações da PF, o motorista, de 44 anos, ainda tentou convencer os policiais de que transportava macarrão. O homem foi preso e encaminhado para a Delegacia de Cascavel e o veículo para a Receita Federal em Cascavel.

Em outra abordagem, por volta das 11h, policiais federais interceptaram um caminhão que transportava cerca de uma tonelada de agrotóxicos na BR-467, na entrada de Cascavel, no Oeste do Paraná.

O veneno estava escondido entre sacas de fertilizantes. O motorista, de 39 anos, disse que o caminhão que foi carregado na região de Tupãssi (PR) seria levado para o estado da Bahia. Ele foi preso em flagrante.

O uso dos agrotóxicos não significa produção de alimentos, significa concentração de terra, contaminação do meio ambiente e do ser humano”

Entrevista publicada em Vi o Mundo, em 20 de fevereiro de 2011

Por Manuela Azenha

Raquel Rigotto é professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Coordenadora do Núcleo Tramas – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde, Raquel contesta o modelo de desenvolvimento agrícola adotado pelo Brasil e prevê que para as populações locais restará a “herança maldita” do agronegócio: doenças e terra degradada.

Desde 2008, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos para se tornar o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Segundo dados da Organização das Nações Unidas, é também o principal destino de agrotóxicos proibidos em outros países.

Na primeira parte da entrevista, Raquel fala sobre o “paradigma do uso seguro” dos agrotóxicos, que a indústria chama de “defensivos” agrícolas. De um lado todo mundo sabe que eles são nocivos. De outro se presume que haja um “modo seguro” de utilizá-los. O aparato legislativo existe. Mas, na prática… Raquel dá um exemplo: o estado do Ceará, que é onde ela atua, não dispõe de um laboratório para fazer exames sobre a presença de  agrotóxicos na água consumida pela população. Ela começa dizendo que em 2008 e 2009 o Brasil foi campeão mundial no uso de venenos na agricultura. 

Na segunda parte da entrevista, Raquel diz que os agrotóxicos contribuíram mais com o aumento da produção de commodities do que com a segurança alimentar. Revela que cerca de 50% dos agrotóxicos usados no Brasil são aplicados na lavoura da soja. Produto que se tornará ração animal para produzir carne para os consumidores da Europa e dos Estados Unidos. Diz que o governo Lula financiou o agronegócio a um ritmo de 100 bilhões de reais anuais em financiamento — contra 16 para a agricultura familiar — e que foi omisso: não mexeu na legislação de 1997 que concedeu desconto de cerca de 60% no ICMS dos agrotóxicos. Enquanto isso, o Sistema Único de Saúde (SUS) está completamente despreparado para monitorar e prevenir os problemas de saúde causados pelos agrotóxicos. 

Na terceira parte da entrevista Raquel diz que Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nem sempre tem apoio dentro do próprio governo para tratar do problema dos agrotóxicos. Afirma que é tarefa de pesquisadoras como ela alertar o governo Dilma para a gravidade do problema, já definida por pesquisadores como uma “herança maldita” que as grandes empresas do agronegócio deixarão para o Brasil; doenças, terras degradadas, ameaça à biodiversidade. Ela lembra que o rio Jaguaribe, que corta áreas de uso intensivo de agrotóxicos, é de onde sai a água para consumo da região metropolitana de Fortaleza. 


Transcrição da entrevista:

Viomundo – O Brasil continua sendo o maior consumidor de agrotóxicos do mundo?

Raquel Rigotto –  Os dados de 2008 e 2009 apontaram isso, eu não vi ainda os de 2010.  Mas nos anos anteriores tivemos esse triste título.

V – Por que a senhora acha que o Brasil vai nesse contra-fluxo? Os Estados Unidos e a UE proibindo o uso de agrotóxicos e o Brasil aumentando o consumo?

RR –  É um fenômeno que tem muito a ver com o contexto da reestruturação produtiva, inclusive da forma como ela se expressa no campo.  Nós estamos tendo na América Latina, como um todo, uma série de empreendimentos agrícolas que se fundam na monocultura, no desmatamento, são cultivos extensivos, de área muito grande, então isso praticamente obriga a um uso muito intenso de agrotóxicos. Então tem a ver com a expansão do chamado agronegócio na América Latina, como um todo.

V – Existem pesquisas que comprovam os malefícios dos agrotóxicos?

RR – Sim, os agrotóxicos antes de serem registrados no Brasil, eles são analisados pelo Ministério da Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente e eles são classificados de acordo com sua toxicidade para a saúde humana e de acordo com o seu impacto para o meio ambiente. Então desde o começo, quando eles são registrados, a gente já sabe que eles são produtos nocivos. Isso já vem descrito nas monografias que as próprias indústrias  fabricantes apresentam para os órgãos dos governos. Aqueles que são classificados como grupo 1, por exemplo, do ponto de vista da toxicidade para a saúde humana, são aqueles que são extremamente tóxicos, depois vêm os altamente tóxicos e os moderadamente tóxicos ou os pouco tóxicos.

Já sabemos desde o início que são substâncias nocivas à vida e têm impacto não só sobre as pragas mas sobre as pessoas e os ecossistemas. Agora, para além disso nós temos uma larga gama de estudos mostrando os impactos ambientais dos agrotóxicos, as contaminações de água, de ar, de solo, de redução da biodiversidade, de contaminação de alimentos, e também do ponto de vista da saúde humana, que vai desde a intoxicação aguda até os chamados efeitos crônicos.

V – Se a nocividade desses produtos é algo comprovado, por que eles não são banidos?

RR –  Na verdade, o que se construiu foi o que a gente chama de paradigma do uso seguro. Quer dizer, se reconhece que há uma nocividade mas também se propõe estabelecer condições para o uso seguro. Aí você tem limitações desde os tipos de cultivos em que cada produto pode ser usado, o limite máximo de tolerância dele no ambiente de trabalho, até mesmo na água de consumo humano, o tipo de equipamento de proteção que deve ser fornecido aos trabalhadores e também a informação que eles devem ter.

Você tem um amplo aparato legislativo que criaria condições para um suposto uso seguro desses produtos. Mas a partir das experiências nossas aqui de cultivo na fruticultura irrigada para exportação no Ceará, a gente vem questionando muito se existe esse uso seguro. Por exemplo, o governo estadual, que tem o órgão estadual de meio ambiente, que deteria a atribuição de acordo com a legislação federal de monitorar os impactos ambientais dos agrotóxicos,  não dispõe de um laboratório que seja capaz de identificar a contaminação da água por agrotóxicos. Na pesquisa, enviamos as amostras para Minas Gerais porque no Ceará não tem órgãos públicos que o façam. E nem mesmo no setor privado tem instituições de segurança. E existem uma série de outras evidências de que essas condições do uso seguro não estão vigendo.

V – Hoje o mundo precisa dos agrotóxicos?

RR – Vivemos um discurso de que os agrotóxicos redimiriam o mundo da fome. Isso nós experimentamos historicamente e própria ONU e a FAO reconhecem que houve o aumento da produção daquilo que chamamos hoje de commodities, como a soja, o açúcar,  a cana, mas isso não implicou segurança alimentar e redução dos padrões de desnutrição e subnutrição entre os mais pobres. Ampliou-se a produção dessas commodities mas sequer a gente pode chamá-las de alimentos porque o problema da fome persiste.

Quem produz alimentos, quem produz comida realmente no Brasil, é a agricultura familiar. No ano de 2008, mais de 50% dos agrotóxicos consumidos no Brasil foi nas plantações de soja. Essa soja é em grande parte exportada para ser transformada em ração animal e subsidiar o consumo europeu e norte-americano de carne. Então isso não significa alimentação para o nosso povo, significa concentração de terra, redução de biodiversidade, contaminação de água, solo e ar e contaminação dos trabalhadores e das famílias que vivem no entorno desses empreendimentos. Além das enormes perdas para os ecossistemas, o cerrado, a caatinga e até mesmo o amazônico, que está sendo invadido pela expansão da fronteira agrícola.

Então é claro que deixar de usar agrotóxico não é algo que se possa fazer de um dia para o outro, de acordo com o que os agrônomos têm discutido, mas por outro lado nós temos muitas experiências extremamente positivas de agroecologia, que é a produção de alimentos utilizando conhecimentos tradicionais das comunidades e saberes científicos sensíveis da perspectiva da justiça sócio-ambiental. Esses sim, produzem qualidade de vida,  bem viver, soberania e segurança alimentar, e conservação e preservação das condições ambientais e culturais.

V –  Como a senhora avalia a política do governo Lula em relação aos agrotóxicos?

RR – O governo Lula teve um papel muito importante na expansão do agronegócio no Brasil. Para dar dados bem sintéticos, o financiamento que o governo disponibilizou para o agronegócio anualmente foi em torno de 100 bilhões de reais e para a agricultura familiar foi em torno de 16 bilhões de reais. Então há um desnível muito grande.

O governo Lula foi omisso em relação às legislações vigentes no Brasil desde 1997, que concedem uma isenção de 60% do ICMS para os agrotóxicos. Ou seja, existe um estímulo fiscal à comercialização, produção e uso dos agrotóxicos no país. Isso, evidentemente, atrai no espaço mundial investimentos para o nosso país, investimentos que trabalham com a contaminação. Também poderíamos falar das políticas públicas, continuamos com o Sistema Único de Saúde, que apesar de ser da maior importância enquanto sistema de universalidade, equidade, participação e integração, ainda é um sistema completamente inadequado para atender a população do campo.

Ainda é um sistema cego para as intoxicações agudas e os efeitos crônicos dos agrotóxicos. E com raríssimas exceções nesse enorme país, é um sistema que ainda não consegue identificar, notificar, previnir e tratar a população adequadamente.  Existe uma série de hiatos para a ação pública que precisam ser garantidos para que se possa respeitar a Constituição Federal no que ela diz respeito ao meio ambiente e à saúde.

V – Alguns agrotóxicos tem sido revistos pela ANVISA. Como esse processo tem corrido?

RR – A ANVISA pautou desde 2006, se não me engano, a reavaliação de 14 agrotóxicos.  Segundo estudos inclusive dos próprios produtores, as condições relatadas no momento do registro tinham se alterado e, portanto, pensaram em reavaliar as substâncias. Esse processo vem correndo de forma bastante atropelada porque o sindicato da indústria  que fabrica o que eles chamam de “defensivos agrícolas”, utiliza não só de suas articulações com o  poder político no Senado Federal, com a bancada ruralista, mas também de influências sobre o Judiciário, e gerou uma série de processos judiciais contra a ANVISA, que é o órgão do Ministério da Saúde responsável legalmente por essas atribuições. Mas alguns processos já foram concluídos.

V – A senhora acha que essa reavaliação pode ser vista como um avanço na política nacional?

RR – A ANVISA é um órgão que tem lutado com competência para cumprir aquilo que a legislação exige que ela faça mas às vezes ela tem encontrado falto de apoio dentro dos próprios órgãos públicos federais. Muitas vezes o próprio Ministério da Agricultura não se mostra comprometido com a preservação da saúde e do meio ambiente como deveria, a Casa Civil muitas vezes interfere diretamente nesses processos, o Ministério da Saúde muitas vezes não tem compreensão da importância desse trabalho de reavaliação dos agrotóxicos. A ANVISA é uma das dimensões da política pública, no que toca às substâncias químicas, que vem tentando se desenvolver de maneira adequada, mas com muitos obstáculos. No contexto mais geral, a gente ainda enxerga poucos avanços.

V – As perspectivas daqui pra frente, no governo Dilma, não trazem muita esperança, então…

RR – Acho que vamos ter a tarefa histórica, enquanto pesquisadores, movimentos sociais e profissionais da saúde, de expôr ao governo Dilma as gravíssimas implicações desse modelo de desenvolvimento agrícola para a saúde da população como um todo.  Porque não são só os agricultores ou os empregados do agronegócio, os atingidos por esse processo. Aqui no nosso caso [do Ceará], por exemplo, o rio que banha essas empresas e empreendimentos, que é o rio Jaguaribe, é o mesmo cuja água é trazida para Fortaleza, para abastecer uma região metropolitana de mais de 5 milhões de pessoas. Essa água pode estar contaminada com agrotóxicos e isso não vem sendo acompanhado pelo SUS.

Nós temos toda a questão das implicações da ingestão de alimentos contaminados por agrotóxicos na saúde da população. Em que medida esse acento dos cânceres, por exemplo, na nossa população, como causa de morbidade e de mortalidade cada vez maior no Brasil, não tem a ver com a ingestão diária de pequenas doses de diversos princípios ativos de agrotóxicos, que alteram o funcionamento do nosso corpo e facilitam a ocorrência de processos como esse, já comprovado em diversos estudos. Então é preciso que o governo esteja atento.

Nós temos uma responsabilidade de preservar essa riqueza ambiental que o nosso país tem e isso é um diferencial nosso no plano internacional hoje. Não podemos deixar que nossa biodiversidade, solos férteis, florestas, clima, luz solar, sejam cobiçados por empresas que não têm critério de respeito à saúde humana e ao meio ambiente quando se instalam naquilo que elas entendem como países de terceiro mundo ou países subdesenvolvidos.

V – Por que o Brasil com tamanha biodiversidade, terra fértil e água necessita de tanto agrotóxico?

RR – Porque a monocultura, que é a escolha do modelo do agronegócio, ao destruir a biodiversidade e plantar enormes extensões com um único cultivo, cria condições favoráveis ao que eles chamam de pragas, que na verdade são manifestações normais de um ecossistema reagindo a uma agressão. Quando surgem essas pragas, começa o uso de agrotóxico e aí vem todo o interessa da indústria química, que tem faturado bilhões e bilhões de dólares anualmente no nosso país vendendo esse tipo de substância e alimentando essa cultura de que a solução é usar mais e mais veneno.

Nós temos visto na área da nossa pesquisa, no cultivo do abacaxi, eram utilizados mais de 18 princípios ativos diferentes de agrotóxicos para o combate de cinco pragas. Depois de alguns anos, a própria empresa desistiu de produzir abacaxi porque, ainda que com o uso dos venenos, ela não conseguiu controlar as pragas. Então é um modelo que, em si mesmo, é insustentável, é autofágico. As empresas vêm, degradam o solo e a saúde humana e vão embora impunemente. Fica para as populações locais aquilo que alguns autores têm chamado de herança maldita, que é a doença, a terra degradada, infértil e improdutiva.

Confira o audio da entrevista no site Vi o Mundo